domingo, 28 de dezembro de 2008

Meninos...

A injustificada severidade não produzia o efeito desejado. Passava noites sonhando acordado, e ainda assim, levantava-se cedo todas as manhãs. Um dia entendeu que precisava cuidar-se mais, e dedicar-se mais, embora não soubesse exatamente a quê. E correu atrás de um único objetivo que o conduziria a um futuro interessante.

Mas mesmo assim o vazio existencial tomava-lhe o corpo, especialmente quando encontrava-se com seus pensamentos na porta da geladeira. Tentava distrair-se com filmes de luta e jogos de computador. Mas nunca supriu o grande vazio, que com a idade passou a aumentar.

Pensava em sexo, e também observava os gatos. Queria encontrar algo que realmente valesse esta vida, mas enquanto não dava certo, ria.

E do riso partia o choro, e as lágrimas só escorriam pela parte de dentro. É que não podia perder o seu ponto de vista privilegiado depois de tanto trabalho, e olhos marejados certamente não seria a saída para a sua solidão.

Abriu então espaço para outras realidades, e apaixonou-se pela possibilidade de sentir. Não estava morto, afinal.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Agora Só Falta Você

Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto à você
E em tudo o que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber
Pra saber o quê?

E fui andando sem pensar em mudar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou

Agora só falta você

As verdades...

A serenidade que procurava não estava nos livros. Mas ainda assim lia-os com ansiedade. Precisava ouvir em sua mente palavras honestas de alguém que dialogasse com sua alma. Mesmo que o autor daquelas palavras não falasse realmente a verdade, insistia em tomá-las como verídicas.

Precisava de um calento para acalmar sua alma inquieta. E não encontrava. E isso alimentava ainda mais a sua busca, intermitente, nos confins dos espaço-tempo distantes daquele agora em que vivia.

Mas nada encontrava alem de boas teorias. Que na pratica diziam muito pouco, mas que ressoavam em sua mente antes de dormir. E conseguia encontrar o sono enfim, mesmo com algum sofrimento.

Um sopro de vida Lispectoresca

A palpitação secular que ressoa da cavidade torácica do meu peito deve ter algum motivo existencial comum aos outros seres. Nada pode ser tão fugaz e intenso ao mesmo tempo. Nada pode ter uma significância única, e apenas os poetas sejam capazes de explicar isso.

Eu queria poder morrer e viver várias vezes. Cada uma das vidas eu teria uma escolha, e ser sim e ser não a cada vez seria momentos de entrega sem hesitação.

A hesitação é o estado limitante do pensamento sobre o sentimento de ação e verdade. Mas se a verdade não existe realmente, então de que serve o questionamento?

Quem me dera sentir sem pensar, quem me dera nascer sem palavras. Quem me dera não aprender a ler e a distinguir o certo do errado, e poder existir sem força, porque viver já dá trabalho o bastante.

Quando diz-se que queremos sentir a vida palpitante, e sorridente nos lançamos ao ardente fogo da emoção, estamos sendo verdadeiros ou apenas inconseqüentes? Então a verdade não escolhe o quem vem depois e simplesmente decide por você o que vai acontecer? E onde fica o livre arbítrio? Ou isso foi uma invenção católica para que controlemos os nossos sentimentos?

(pausa para reflexão)

Quem encontrar a resposta que escreva primeiro.

domingo, 9 de novembro de 2008

História da paixão inacabada

Encontraram-se à toa, como quem cruza a rua. Ela o viu primeiro. Ele estava absorto em seu furacão de plásticos e pensamentos. Em suas loucas divagações, era comum ser observado – gostava disso. Nestes momentos falava mais alto, aparentando loucura e afastando os mais medrosos. Mas não conseguiu afastá-la: ela interessou-se ainda mais.

Tentava distinguir entre movimentos e resmungos algum sentido naquilo tudo. E a afetação desprovida de qualquer intenção encantou-a. Olhou com intensidade os cabelos e o nariz.

Ele percebeu que ela se aproximava. Era bonita, de fato, e parecia interessada. Tentou conversar, falaram-se afinal. Mas as palavras não disseram nada. Pertenciam a mundos distantes, e encantavam-se, às suas maneiras, com o mistério do outro. Sorriram. E tocaram-se. Descobriram e possuíram, em seus mundos, o deslocamento das fronteiras.

Ela era ligeira, e, com sensualidade abraçava o mundo. Isto lhe trouxe segurança. Embora às vezes aparentasse ser inconseqüente, ela não era realmente. E ele a admirava por isso – ele nunca tinha nada a perder.

Mas os homens fumantes, naturalmente, têm menos fôlego. E voltou à sua busca infinita por sentidos que nunca se prenderia. E ela tornou o seu amor platônico. Desejava muito, e sentia-se manipulada. A tristeza de uma solidão não compartilhada devorou seu amor. Abandonou-se à beira de um abismo por eternos segundos. E em sua queda vertiginosa, abriu os olhos.

E então... desejou desejar menos Sua paixonite cega se tornou míope, e foi capaz de perceber algumas nuances de perto. Ele não era tão crível assim. Tinha manias e medos insuportáveis e provavelmente jamais teria algo no que se segurar na vida. Com algum sofrimento sorriu e percebeu que não seria mais feliz ao lado dele, não mais do que já tinha sido.

Ele, das conversas, nada extraíra e percebeu que a beleza ocultava uma pessoa obsessiva, cheia de opiniões e histórias que jamais condiziria com a forma simples com que justificava sua vida. E sorriu por não ter que pedi-la em casamento. 

Ela mergulhou-se em seu amor próprio e ainda assistiu com algum ressentimento, o mesmo espetáculo do homem, agora para outras. Mas a esfinge estava decifrada, então dispôs-se a conversar com outras pessoas menos previsíveis. E de onde não esperava nada, eis que surge algo realmente mais interessante: da previsibilidade a surpresa aparece! O seu desamado sofre, e empilhando pratos sobre a cabeça não suporta a redefinição de fronteiras que antes havia deslocado. Não podia mijar no seu pé, mas tentou derramar cerveja. Enciumado tentou de todas as formas resgatar o seu espaço, mas era tarde. E ela, secretamente gozou com uma vingança não programada, mas tão doce quanto a o primeiro beijo de uma paixão perturbada. Era ela a mais estruturada, afinal.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ela.

Nunca se dera conta de sua existência. Simplesmente vivia. Sua inocência fora roubada, e desde então, convivia com a simples e árdua tarefa de dissociar seus sentimentos da ordem prática da vida. Queria ir além, mas aprendera a se limitar. Permitia que se aproximassem, gostava de carinhos, mesmo que eróticos. Mas não admitia se entregar. Amar era demais para si. Não se sentia merecedora de amor. Ou nunca encontrara realmente o significado da palavra.

Não conseguia ir além de seus passos. Mas sua mente alcançava céus e infernos inimaginados. O tempo era relativo, e a sua experiência também. Tinha apenas uns vinte e poucos anos - e, no entanto, o que lhe restava ainda para viver?

Queria paz, mas em tempos de morte e tráfico, esta palavra era proibida. Então: fumava.

E sua fumaça entrelaçava os cachos que moviam seus pensamentos. Certamente tinha uma inteligência inigualável – mas nem mesmo ela admitia isso. Acreditava estar a frente de seu tempo. Mas como, se ainda não aprendera a amar?

Cruzou com um rapaz interessante. Tomou-o para si. Fez de tudo que pode e enlaçou-o entre suas pernas, bem debaixo de suas asas. E construiu sob o ninho um enorme castelo de cartas por cima de sua nuvem de idéias.

Mas ela tinha uma história! E não conseguia deixar de vivê-la. Queria mais, um furacão turbinado moia um motor a sopro dentro do peito. Queria mais, queria sentir-se bem, queria prazer, plenitude. Mas fazia-se em pedaços, e em cada parte de si mesma largava a fúria de uma vida indigesta.

Queria liberdade, mas a liberdade era frouxa demais para alguém que não tinha nada. Tinha medo de morrer, e de gostar. Então, sofria.

domingo, 12 de outubro de 2008

Palavras sinceras...

A intensidade da sua paixão corroia suas vísceras. Desejava mais que tudo a liberdade, ainda que suas apostas fossem maiores que pudesse pagar. Desejava coragem para uma renúncia súbita; mas não era dela que dependia os altos valores; era preciso mais que borboletas no estômago.

E não conseguia se conter. Embarcou fundo, precisava mais, o tempo inteiro. Sua imaginação não largava a ilusória paixão, e tolamente se encontrava com ele lavando a louça e escorrendo macarrão. Ou na paisagem da janela do ônibus.

Mais uma vez mais o destino pregava-lhe uma peça. Era um teste de resistência, consistência e profundidade. Precisava se concentrar, não podia lhe faltar ar.

Talvez ela não quisesse mais provar que estava certa, até porque não estava. Deixava-se levar por curiosidades e angustiantes dúvidas existenciais.

Tinha compromissos, ela sabia. E tinha consigo mesma estabelecido o acordo de nunca mais passar fome. De nada. As feridas estavam abertas, e ela não podia contê-las. Era tempo de cicatrizá-las.

Enfiou a mão dentro da bolsa. Tocou várias, mas não agarrou nenhuma delas. Queria a sua caneta, aquela que se adaptava aos seus calos, a única que era capaz de desenhar o exato suspirp da alma. A que escrevia as verdades.

Haverá um tempo em que papel e letra serão obsoletos, pensou. Mas mesmo nesta época, seu caderno estaria do seu lado, pois somente com ele seria capaz de desafogar a alma embebida.

E escreveu. Escreveu suas mágoas, seus desejos, seus ideais. Os mais pérfidos, os mais obscuros. Libertou sua alma de toda excitação, de toda incerteza e de toda agonia. Sua solidão doeu, e lágrimas romperam finalmente com sua angústia. A pessoa ao seu lado incomodou-se com seu choro. Mas não agiu. Ela também estava contida pelas emoções que não podia expressar.

Então fechou seu caderno, enxugou as lágrimas, e deu sinal para descer. Já era outra pessoa, confiante, feliz. Esquecera seu universo infinito de iceberg e voltou para a realidade.

Para seu consolo, sempre haveriam palavras que não precisariam ser lidas. Bastaria que fossem pensadas, anotadas. São aos casulos das borboletas do estômago – precisam ser rompidos para libertar a essência.

(des) AMANDO

A covardia é a pior forma de cretinice que existe. Mas tudo bem, porque como eu sou feliz por dentro, não me incomodo com os defeitos dos outros. Tenho os meus também.

Um dos meus piores defeitos é estar certa. Odeio quando estou certa. Eu vejo as pessoas, fazendo, falando, amando. E eu, comigo mesma, duvido. Digo essa pessoa não vai até o final. E não vai. E a minha outra eu, que queria tanto que eu mesma estivesse errada fica olhando, querendo colocar o dedo na boca, ou ganhar um afago, pode ser abraço ou cafuné. Mas não tem jeito nêga, não da pra confiar.

Eu amo algumas pessoas. E na maioria das vezes, sou amada também. Cada um tem seu jeito de amar, é preciso deixar que se seja amada. Mas as pessoas não sabem lidar com sentimentos puros, as pessoas não sabem nada sobre amor. O amor é um sentimento puro demais, a poluição da cidade ofusca seu brilho.

Então àquilo que a minha outra eu diz isto não é recíproco, a minha heterônima do dedo na boca responde: é preciso amar as pessoas como elas são... e elas amarão às suas maneiras tortas e confusas.

Mas não contenho meu desapego. Infelizmente sou mortal. Pra que tanta desconfiança, pra que tanta torteira? Por que as pessoas não se juntam, não se amam, e pronto, todos seremos felizes para sempre?

Minhas três de mim queriam se juntar, queria a companhia dos meus amados... queriam estar erradas e não desconfiar.... queriam um abraço, uma conversa... mas mesmo as pessoas da sala de estar não sabem amar...

Então... brota os opostos do amor. Endureço, esqueço finjo que não percebi, dou aula de amor ou lamento a minha dor. Onde fica o meu euzinho desamado, guardo na gaveta ou tiro do armário?

domingo, 5 de outubro de 2008

Andança

Você nunca vai encontrar alguém mais perfeito para você na sua vida. E se isso for verdade, até onde posso ir, e quais serão exatamente as escolhas e as renúncias que farei a mim mesma como prêmio da nossa ilustre combinação?

instantes-já que Lispector pronuncia de maneira formidável – e pouco importa o futuro, porque cada segundo é o futuro acontecendo e imediatamente tornando-se passado. Mas pouco me importa o tempo.

Mesmo que nos conheçamos hoje ou daqui a dez anos, ou conforme dizem, há mais de dez, isto não implica em nada mais do que o grau de lembrança que temos um do outro. Afinal, a intimidade nunca mudou e sempre foi assim.

Mas daqui para frente, que sei que você existe e você sabe que estamos bem, e ainda assim me liga e me ama gritando, e ainda revoltada eu volto e te amo, e ainda assim, queremos mais, queremos um mundo, mas onde está o mundo além de aqui com você dentro de mim?

Quero um jardim de acácias, mesmo que ainda não associe o nome à folha, ainda assim quero. Quero uma tela, quero uma música, quero dormir, acordar, respirar. Quero. E sei que dos meus queros, alguns você quer também, mas sei que existem outros tantos queros que você quer, que se somamos cada um dos queremos podemos chegar ao infinito. Como ir ao infinito sem tirar os pés do chão?

A existência não existe realmente, mas pelo menos duas ou três vezes no dia não consigo continuar a fazer sem botar algo na boca. O ar é de graça, mas a comida não é não. Mas a gente não quer só comida...

Quero muito e de todas as quereções, o que eu nunca senti com tanta intensidade foi querer mais ainda querer. E sei que ficamos bem assim.

Mas isso não é motivo. Isso ainda não é condição. Precisamos urgentemente mais e mais e melhor e mais rápido.
E, pra variar, no estilo tudo-ao-mesmo-tempo-e-quanto-mais-intenso-melhor. Amo-te mais do que poderia, mas a liberdade sôfrega, testo-a com intensidade. “Sou heróicamente livre”.

Lispector me entenderia...

Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou num estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. Parece com momentos que tive contigo, quando te amava, além dos quais não pude ir, pois fui ao fundo dos momentos. É um estado de contato com a energia circundante e estremeço.

Uma espécie de doida, doida harmonia. Sei que meu olhar deve ser o de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom.

Água Viva, de Clarice Lispector.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Encontrando-se

Suspiro.

Sua musa inspirou-lhe o caminho de sua vida. Queria mais, queria tudo. Precisava sentir-se viva, e para isto devia libertar-se de todo o resto. Todas as paixões mal resolvidas, as disputas, os rancores.

Se entregou. Começou lendo um romance. Em seguida, foi ao teatro. E então se perdeu pelas galerias dos museus e suas cafeterias ao final da tarde.

Foi então que, desacompanhada, se apaixonou. Seguindo seus impulsos não mais contidos, ela se deixou levar por tudo aquilo que mais repulsava de si mesma.

E já não sabia mais o que pensar. Temia as decisões. Antes mesmo era indecisa, sempre penava pelas escolhas – afinal, uma escolha é sempre uma rejeição. Nunca abriu mão de nada. Preferia que as coisas abrissem mão dela.

E então ele apaixonou-se por ela novamente. Era desta mulher que gostara no primeiro dia, tantos anos atrás. Por onde andara? Por que sumira por tanto tempo?

Em sua confusão não podia conter o desejo de desejo, e a paixão que lhe pulsava no peito. Ainda não sabia exatamente o que fazer, mas sabia que a vida tomaria rumos, querendo ou não. Mas, de tantas escolhas, preferiu não se definir. Definir seria limitado demais para seu estado de alma expansivo.

Secretamente desejou não ter nenhum compromisso. E assumiu consigo mesma o dever de sentir-se bem e feliz sempre, apesar de tudo.

Voltou a sonhar. E em seu sonho, todas as suas paixões se reuniam, num transe hipnoticamente orgasmático. Não queria o fim, a não ser que fosse precedido do êxtase. E este ainda não havia sido alcançado.

Na verdade, o gozo não era mais seu objetivo, mas o processo que a conduzia a ele. E agora, encontrado o caminho, não quis jamais deixar de caminhar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

São tantas questões...

Maíra Baky


São tantas questões que me tento

Procuro, anseio, e um pouco me leio

Um pouco me guio, um pouco tormento

São tantas questões, são tantos os eixos

Um dia arrisco, outro devaneio


São tantos os lados, dodecaedros

Me abate o cansaço, fujo das regras

Me alvoroçam amargos, doentes e retos

Poucos casos abalam, poucos se casam

Quase inexiste, coexiste, convergem


São tantos problemas, aflições

Tantas doenças, inaptidões

Vazios enchidos a amargas ilusões

Decisões invertidas, coerções

São tantos livros, tantas historias

Quase não oiço, são muitas as glórias

(me falta memoria)


Me fico acoada, toca e mordaça

Quase nada me açoita a graça

São tantas as vidas, tantas canções

Não toco feridas, não canto nações

São tantos os moços, os louros, os brados

Me faltam abraços, falta emoções

São tantos os medos, espantos e gostos

Não me atenho, solto balões

Vão-se com o vento todas as unções


São tantas as vidas, os sofrimentos

Há tão pouco agora as matas e os sons

Me atenho às folhas e as formigas

Estudo a graça das pequenas feridas

Uma cria descomparsa, hoje se caça

Já foi louvada, hoje se apaga.

Fotografia

Cecília Meireles

DESEJO UMA FOTOGRAFIA
Como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

As pessoas da sala de jantar

De todas as minhas inquietações, nada me atormenta mais do que a quantidade de tarefas inacabadas. Infortúnia herdada através da vaga noção de que ser responsável significa se tornar um robô boçal; a minha rebeldia depõe contra mim mesma.

É o fim.

Mas não vou me render até o final. E quem disse que existe certo, errado e direito? To me lixando pras contas a pagar e não quero nem saber dos deveres de filha e de esposa que predeterminaram a minha posição social.

As pessoas escolhem por você papeis que você nem bem se acostuma já está decidido. Saca a cadeira vazia da mesa de jantar? Ah, muito obrigado, mas esse lugar aqui eu não quero não.

E ponto final.

A fraude

E se não mais que de repente todas as coisas se parecessem infinitamente sem sentido, idiotamente sincronizadas e trapaceiramente enganosas?

Tenho sentido uma estranha farsa dentro da minha própria existência. Como se houvessem outras, umas três ou quatro de mim seguindo caminhos e sentidos diferenciados, buscando o controle do único corpo que rege as vontades de mim.

Foi ali que passei a ter heterônimas de minha pessoa, e tentando satisfazê-las a todas, me perdi. Cansei. Stop ou slow motion, foi o que meu coração lentamente pediu quando queria arrego.

Eu quis brincar até explodir. Fazer o que não imaginaria fazer, e desenhar no céu carbonos de anil.

Mas hoje, uma segunda feira das trevas sorrupiou o canto da minha alegria e invocou a melancólica dúvida da razão: pra que isto tudo, então?

A conta que não se esgota é tamanha que pagaremos a prestação a partir do quadragésimo sétimo aniversário. Ninguém sente na pele o que é ter quarenta anos.

Mas tudo bem. Afinal, vivendo ou não, as contas serão pagas de alguma forma. Hoje eu queria companhia e encontro a casa vazia.

Hoje eu queria descanso, e encontro mais trabalho e mais responsabilidades.

Hoje eu queria produtividade, e todo o percalço do inevitável circulou ao redor do imprevisível.

- Contem com Marphy para finalizar as quartas feiras a tarde. Bom conselho afinal hoje ainda é segunda.

Dead line: game over

Infinitamente incompleta. Esta é uma das minhas versões mais atualizadas.

Ultimamente não tenho tempo para respirar. E nunca foi tão bom – pra que esse titulo então?

Uma sensação de vazio invade a minha alma. Incompleta. Eternamente vazia. Infeliz.

Um medo de estar sozinha. Antigamente eu gostava de estar assim, desacompanhada. Eu era feliz e não sabia.

Tinha controle sobre minha vida, minha saúde, meus pensamentos. Sabia o que buscar, onde como e porquê. Hoje – hoje estou largada em minha vida perdida no mundo.

Não menos feliz. Nunca estive tão feliz. Nunca vivi tão intensamente cada segundo nunca fui tão repleta de atividades e sensações. E agora, o vazio do mundo me preenche.

É como se estivesse tão ocupada a todo minuto, que o simples desarranjo de um imprevisto me largasse à beira de uma estrada sem direção. Volto pra casa então.

E sigo infeliz as horas que passam, sem sono, sem fome, sem companhia. Uma amargura doída no fim do dia.

Queria me sentir bem, e na maioria do tempo estou. Mas essa melancolia que me invade a bacia me pergunta para onde vou?

O que desejar, que tipo de pessoa me tornar? Devo estar solta na vida, correr atrás das lembranças perdidas? Ou apenas e simplesmente deixo ficar, e em seguida volto inibida para a sala de estar?

Ainda não sei exatamente o que é isto, são tantas novidades e tantas rotinas. Queria estar melhor resolvida, mas a medida em que me busco encontro relâmpagos e trovoes:

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa? (Clarice Lispector)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

um beijinho e um selinho


Ganhei um selinho da ANA e nao posso deixar passar em branco. Ela é uma fofa, eu adoro o blog dela e pelo jeito, meu carinho é recíproco! obrigadaaaaaaooo Ana!

Eu daria o selo pra própria Ana, mas agora esse ela ja tem! haha


Vou passar pra dois blogs que eu adoro: CENA 7 e Calça Jeans e Havaianas

E viva a rede bloggeira!

domingo, 17 de agosto de 2008

Aula de teatro

Depois de já ter algumas certezas da vida, de alcançar alguns caminhos, encontrar algumas soluções... saber como lidar com as pessoas, ter minhas opções, minhas opiniões, minha maneira de conviver, de pensar, de sentir... Encarei meu maior desejo e meu maior medo: me inscrevi em um curso de teatro.

De repente tudo muda, e muda forte, marcado. De todas as certezas só restam dúvidas. De todos os acordos, só restam assinaturas. De tudo que acreditei válido, certo, direito, nada disso vale. Me tornei gente, mas tarde demais.

Incrível o quanto somos determinados pelo meio, e o quanto somos limitados em nossa percepção. Incrível que eu tenha me enganado tanto a esse ponto de achar que o crescimento é linear, estável, direcionado. Nada. É preciso expandir, aprender mais, melhor, difuso, complexo, desencontrado. Sempre. Aprimorar os sentidos, as memórias, os gestos, o corpo, a vida. Dar espaço para ser outras coisas, e para outras coisas estarem em sua vida.

Porque vivemos amarrados em uma realidade crua e dura, e resistir é preciso. Amar é preciso. Amar é também uma forma de rebeldia. Fazer é uma maneira de estar mais junto da vida que um dia gostaríamos que fosse. (como eu demorei pra entender isso!).

Antigamente eu vivia através da experiência dos outros, do que os outros faziam, pensavam, sentiam, gostavam. E ainda gosto de compartilhar a experiência alheia. Mas fazer... fazer, botar em prática, é encarar tudo, o desejo e o desgosto, o prazer e o cansaço, buscar a exaustão em você... só estando na pele para sentir.

Hoje me tornei assim. Mais leve, mais estranha à mim mesma de antes. Estou sensível para o que posso ainda extrair desta experiência incrível que é viver.

De todas as burradas, esta é a melhor que eu já fiz.

sábado, 2 de agosto de 2008

O Amor Antigo

Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o amor antigo, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A cura de Schopenhauer


É interessante que, além da vida real, o homem sempre tem uma segunda vida abstrata onde, com calma deliberação, o que antes o deixava nervoso e irritado parece frio, sem graça e distante: ele é mero espectador e observador.


Deveríamos limitar nossos desejos, controlar nossas vontades e dominar nossa raiva, sabendo que só conseguimos o mínimo do que vale a pena ter.



Devemos encarar com tolerância toda loucura, fracasso e vício dos outros, sabendo que encaramos apenas nossas próprias loucuras, fracassos e vícios.


Poucas coisas deixam as pessoas tão satisfeitas quanto ouvir algum problema ou constatar alguma fraqueza em você.


As grandes dores fazem com que as menores mal sejam sentidas e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.


A cura de Schopenhauer

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Cuidar de si

Fui fazer uma visitinha na Ana e ela me inspirou... vou tentar unir útil ao agradável. Já que ando com os neurônios em êxtase de tanto estudar, hoje vou escrever sobre um trabalho interessante desenvolvido por Foucault. Foucault foi um grande filósofo francês, que escreveu alguns trabalhos muito interessantes sobre a sociedade, o poder, a sexualidade e a loucura.

Um texto bastante interessante de Foucault chama-se As técnicas de si, onde ele analisa como práticas e ações sobre si mesmo tomaram corpo naquilo que entendemos por cuidado de si na atualidade. As técnicas de si permitem aos indivíduos realizarem sozinhos ou com a ajuda de outros, “um certo número de operações sobre seus corpos e suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos de ser; de transformarem-se a fim de atender um certo estado de felicidade, de pureza, de sabedoria, de perfeição ou de mortalidade” (Foucault, 1982).

Em outras palavras, trata-se de se policiar, de controlar seus atos, pensamentos, ações e o próprio corpo, com o intuito de tornar-se um individuo melhor, mais feliz, mais justo, mais belo. Isso acontece diariamente em nossas vidas e sequer nos damos conta. Quando temos o impulso de beijar alguém, mas não fazemos, quando queremos atacar um pedaço bolo e a consciência nos lembra o quanto teremos que malhar para perder aquelas calorias, quando nos forçamos a levantar mesmo que o corpo deseje uns minutinhos a mais, são todos exemplos de autocontrole, adquiridos com as técnicas de si. Mas existem outras técnicas ainda mais rebuscadas de exercer o controle sobre si mesmo.

As técnicas de si foram aprimoradas pela filosofia cristã, que apropriou-se de algumas táticas para melhor se inscrever nas condutas morais de seus seguidores. E desta tradição, algumas ainda persistem em nossos dias.

A análise de consciência, a escrita de si (como um diário ou um blog), a confissão, e as conversas íntimas (com uma amiga ou namorado), todas são formas de pensarmos o que fazemos, nossas práticas e condutas, e avaliar se estamos no caminho certo, ou se agimos errado, como se estivéssemos em falta com alguma coisa. Herança cristã.

Segundo Foucault, os gregos praticavam as técnicas de si de outra forma, a partir do princípio “conhece-te a ti mesmo”. Cuidar de si não seria apenas regrar as práticas e a conduta, mas sim uma missão para a vida toda, para elevar-se quanto ser humano, se tornar um sujeito interessante, bom, sábio, e feliz.

Este detalhe faz toda a diferença: significa não se sentir culpado por fazer algo que lhe faz bem, simplesmente porque outras pessoas dizem que não pode; significa você próprio ser capaz de fazer a análise sobre a sua vida, e mesmo que ouça conselhos, saber agir por conta própria, arcando com as conseqüências de um ato condenado pelos outros.

Tomar conta de si, preocupar-se e cuidar de si, segundo o princípio grego é na verdade mediar o que você quer, ponderamente, considerando aquilo que os outros esperam ou pensam. Você pode até aceitar um conselho, ouvir o que os outros têm a dizer, até porque muitas vezes quem está de fora enxerga coisas que quem está envolvido no processo não percebe. Mas a palavra final é sua. Essa é a essência do pensamento grego, e me parece que uma prática que precisa urgentemente ser adotada nos dias atuais. Afinal cuidar da própria vida está em falta – ô povo pra gostar de cuidar da vida dos outros! Vamos buscar o que queremos para nós mesmos em vez de ficar julgando os outros?

Saiba mais sobre Foucault aqui.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Correndo contra o tempo

Ultimamente não tenho tempo pra nada. E comecei a perceber que, ao menos desde que comecei a estudar a rotina tem sido assim. As obrigações talvez não fossem tantas, mas certamente eram proporcionais a minha capacidade da época.

Quando somos novos, passamos tanto tempo dependendo dos outros, fazendo cursos, escola, faculdade, estágio, e mais sei lá o que, e tudo pré-determinado – que horas você entra, que horas sai, que dias faz, quantos dias e em quais meses você tem direito a férias, o monte de disciplinas obrigatórias, o estágio obrigatório... Quase não temos controle sobre nós mesmos. No máximo escolhemos fazer inglês às terças e ir malhar às quartas. Depois de toda essa maratona de obrigações, eis que você se encontra com seu diploma, o dever cumprido e o universo para conquistar.

Nada é simples. Arrumar um emprego já é um novo desafio. E se encaixar nessa nova rotina, tão estressante quanto antes, com menos tempo disponível ainda, eis que vc encontra vários motivos para desejar voltar atrás e ser um adolescente novamente. Essa vida de adulto não é fácil! Emprego, salário, contas, obrigações, chefe, carreira... São tantas coisas pra pensar que às vezes não consigo nem lembrar de todas elas.

Essas tarefas diárias andam me consumindo... E apesar de todos os malefícios para a coluna, a eterna falta de tempo, a grana curta, todas as reclamações possíveis sobre o chefe, a parte chata do trabalho, os prazos curtos, as horas que eu perco dentro do ônibus, as novidades que mais atrapalham do que ajudam... Apesar de tudo e de todos, seguimos vivos, seguimos inteiros e, minimamente felizes. E encontramos no mesmo trabalho alguma motivação, algo que percebi em casa, num dia que não fui.

Ficar em casa é uma canseira só. Nada de bom para fazer. Na tevê só programas chatos, velhos e sem graça. Pela casa só tarefas chatas a serem feitas – lavar, passar, cozinhar, limpar. O dia passa lento, morno, inútil. E você olha pro relógio ainda são 14h!! Meu Deus o que vou fazer pra preencher o meu tempo até a noite?? Os dias se repetem, e nada muda - ainda mais para pessoas pobres como eu, que não podem sair e viajar por três dias pra algum lugar interessante ou entrar numa boate que custe 60 reais a entrada. O lance é ficar em casa com o Faustão.

Trabalhar é sentir-se útil nessa vida. É aproveitar o tempo no limite em que pode ser aproveitado. É sentir-se parte de algo maior, contribuir, de alguma forma, para a construção de uma realidade como você gostaria que fosse. Nem que pra isso não faça exatamente como você queira, tenha que convencer seu chefe, engolir uns sapos, fingir que não ouviu um comentário.

Ah, e ter um pequeno controle sobre sua vida. Afinal, sempre existe a possibilidade de chutar o balde, mandar fulaninho se fuder e ir tomar uma cerveja ao sol. As vezes parece que não, porque a conquista no dia-a-dia é pequena, lenta, e imperceptível. Mas olhar pra trás e saber que estamos ficando experientes, que já não cometemos os mesmos erros, e que estamos caminhando em direção a alguma coisa, isso já é uma recompensa por todas as tardes que não assisto Sessão da Tarde.

domingo, 15 de junho de 2008

Quando me amei de verdade

Charles Chaplin

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...
Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é...
Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a...
Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é...
Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é...
Saber viver!!!

sábado, 7 de junho de 2008

O calouro

Seres inferiores ou apenas ingênuos? O que propriamente significa ser calouro em uma universidade?

O calouro é um ser extremamente carente. Parecem estar gritando ‘precisa me amar, precisa me amar’ o tempo todo: você pode rir do calouro, engana-lo, sacaneá-lo, usa-lo – ainda assim ele quer muito que você o ame. Ele precisa do seu veterano para ensina-lo a viver no mundo hostil da universidade.

Sair da escolinha, um lugar onde todo mundo te conhece, onde o professor verifica quem faltou na aula passada para repassar a matéria, onde até a diretora te conhece e está disposta a ajuda-lo, merece e precisa de um rito de passagem. É preciso comemorar, mas é preciso crescer também. Assim nasceram os trotes.

No trote, o calouro vai aprender que é preciso um pouco de malicia para viver no mundo, que não se pode confiar inteiramente nas pessoas, e que melhor que seja seus amigos de curso do que estranhos com verdadeiras más intenções. Ele vai ser humilhado, questionado, explorado. O limite do trote depende do curso, das tradições internas, mas também do calouro – ele participa, e é, de certo modo, conivente, afinal ele é o ator principal da sua própria tragédia.

Os calouros poderiam se rebelar, não fazer o que seus veteranos pedem (ou mandam); mas isso significaria ser vaiado e retaliado por todos ao seu redor, e assumir um posicionamento demasiado rígido para sua condição. Precoce demais. Os calouros poderiam se unir, fugir, fazer retalias – mas não sabem como faze-lo. Os calouros não se conhecem, não sabem se organizar.

E também não é essa a escolha deles – como eu disse, eles querem ser amados. O que é um micro-sofrimento passageiro, perto das vantagens e benefícios que você vai conquistar com o passar do tempo? Ganhando seus veteranos, submetendo-se humildemente ou de maneira sarcástica (sim, existem calouros que chegam e fazem por fazer, perguntam, ‘é isso mesmo que você quer que eu faça? Que ridículo, ta bom eu faço, isso vai te fazer feliz? Vai ser meu amigo se eu fizer?’) é garantia de parceria, de amizade e de momentos para lembrar e chorar (de rir) na sua vida.

A partir do final do trote uma nova vida se forma: torna-se adulto, agora a pessoa é responsável pelo seu próprio estudo, seu material, seu almoço; alguns vão começar a trabalhar, outros a fazer carreira acadêmica. Aqui nos despedimos da vidinha infantil da escolinha folhinha feliz e entramos no mundo sórdido e podre da vida adulta. Conhecendo o que há de melhor e pior – sexo, drogas, e musica eletrônica. E aprendemos a ser biólogos, médicos, dentistas, jornalistas, geólogos. Cada um a sua maneira, ao seu ritmo e modo.

Rir do calouro é rir de você mesmo.É reconhecer que um dia você já foi aquilo, já foi ingênuo, bobo, desorientado, carente. E reconhecer que – graças a deus – você mudou. Em um semestre ou um ano se tornou outra coisa. Afinal, com todas as provas e dificuldades, vale a pena estudar.

domingo, 1 de junho de 2008

Se um cachorro fosse seu professor...

Você aprenderia coisas assim:

Quando alguém que você ama chega em casa, corra ao seu encontro.

Nunca perca uma oportunidade de ir passear de carro.
Permita-se experimentar o ar fresco do vento no seu rosto.

Desconfie dos estranhos, mas saiba ter confiança quando não tem motivos para desconfiar.

Mostre aos outros que estão invadindo o seu território.
Não morda quando um simples rosnado resolve a situação.

Tire uma sonequinha no meio do dia e espreguice antes de levantar.
Corra, pule e brinque todos os dias.
Tente se dar bem com o próximo...


Em dias quentes, pare e role na grama, beba bastante líquidos e deite debaixo da sombra de uma árvore.
Quando estiver feliz, dance e balance todo o seu corpo.

Não importa quantas vezes o outro te magoa, não se sinta culpado... volte e faça as pazes novamente.

Aproveite o prazer de uma longa caminhada. Sente, se cansar.
Se alimente com gosto e entusiasmo. Coma só o suficiente.

Seja leal.

Nunca pretenda ser o que você não é.

Se você quer se deitar embaixo da terra, cave fundo até conseguir. O mais fundo que conseguir. Ou o mais fundo que você achar suficiente.

Faça o que você se propõe a fazer. Aquilo que você se sente bem fazendo, aquilo que realmente é da sua natureza.

E o MAIS importante de tudo...

Quando alguém estiver nervoso ou triste, fique em silêncio, fique por perto e mostre que você está ali para confortar. Sempre.

sábado, 31 de maio de 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Velhos amigos e amigos velhos


Esse mundo anda meio estranho... uma atriz que ninguém conhece ganhou o premio em Cannes; um atleta que todo mundo conhece comemorou a derrota... Vocês têm achado comum as noticias dessa semana?? Eu fiquei bem quieta, na maior ressaca moral de não ter ido à parada gay, hunf.

Enfim... desse mundo aqui, parece que nada é o mesmo não é verdade? As coisas andam meio estranhas...

Agora nada como velhos amigos, da nossa idade. Pessoas pra quem você pode dizer o que pensa, o que sente, fazer uma piada, sem ofensas, só pra rir. Olha, to precisando urgente. Minha grande amiga voltou de viagem e nossa, só de saber que ela está a 10 km já é uma felicidade sem fim.

Não agüento mais conviver com velhos. Onde eu vou, estudo e trabalho, só vejo esses seres infames. Pessoas mal amadas de cinqüenta anos, a grande maioria divorciadas e pouco felizes. Pessoas rancorosas, pessoas morimbundas. Pessoas que amam seus filhos, lambem a bunda deles e depois, oh, você que se arrume com esse sujeito infeliz que quer outra mãe pra cuidar dele. Essa eu ouvi hoje: “ah, já criei bastante, já me deu muito trabalho ele que arrume outra mulher pra cuidar dele um pouco”. É assim que essas criaturas malditas deixam esses marmanjos barbados querendo que a gente limpe as bundas, lave, passe e ainda vista roupinha sexy pra brincar de médico.

Nada me faz odiar mais esse mundo do que essas velhas cinquentonas. Nada. Juro pra vocês, minha vontade era esganar, gritar, sapatear, socar muito uma pessoa que fala isso esperando que você aceite de bom grado. E quando você argumenta, (e eu no auge da minha argumentação quase perco a razão, nossa fico violenta huahua) ela vira pra você e diz ‘ah você é muito nova, não cuspa pra cima, você ainda vai passar por isso, você ainda vai ter filho’. Olha, eu fico pra morrer quando acham que eu não sei de nada porque eu sou nova (e até sou, mas hoje em dia as pessoas são tão novas que eu me acho até meio velha!) - dizem que os jovens são orgulhosos e presunçosos, e têm mais que ser! Afinal, os velhos são o quê com essa torcida de 'eu sofri, mas agora voce tambem vai sofrer'?. Então é assim, aceite, sua besta, você é uma mosca, você nunca vai fazer diferença e se fizer, vai ter que limpar a merda que eu fiz. Porque os MEUS FILHOS são lindos, gentis, bla bla bla. ¬¬

Nada pior que uma boa velha e querida dona de casa pra tentar deixar a gente com dor na consciência. A mulherada se esforça, lembra de ligar antes de ir, pergunta se precisa de alguma coisa, faz uma firula pra não chegar muito cedo, ou ao contrário, chega de propósito um pouco antes pra dar uma força. E o que mais elas querem? Elas querem que você assuma o papel delas, de mulher infeliz na vida, que foi largada e continuou a batalha, que faz tudo por todo mundo e que você, mulher também, como um dia vai ver isso de perto, você, minha querida nora, sobrinha, filha, amiga, você tem que me ajudar, é mais do que a sua obrigação. E aí você fez o que achava que tinha que fazer, se importou mas na hora da festa, desculpa tia, mas eu não vou pra cozinha não.

E vou ser sempre mal educada, preguiçosa, petulante, porque é só com muita raiva (e paciência! Tome paciência! Um balde de paciência!) pra poder mudar esse mundo um pouquinho assim. Do tamanho da minha insignificância.

Na boa, sem ofensa, idiotas tem de todas as idades, (inclusive uma frase que eu amo do Nelson Rodrigues vou ate postar ae em abaixo) mas só pra mudar o clássico ‘esses jovens andam muito alienados’, essa coroada anda precisando levar uma chinelada na bunda! Ah, e fazer muito sexo, porque gozar é o que eles não fazem há muito tempo.

A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.

Nelson Rodrigues

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Café e parada gay

Ontem foi a parada gay paulista, hoje eu vi no jornal aquele mar arco-íris de gente. E senti saudade do dia em que peguei o avião, e estava acompanhada e nem era namoro; ela estava ali de companhia, extremamente doce e divertida, me fazia acreditar que um dia tudo seria banal e tudo seria feliz.

Exaustas da corrida de 48 horas, depois de atravessar a avenida paulista, correr feito umas miseráveis, dançar enlouquecidamente, depois de tudo, voltávamos para nossa vida pequena e infame, e no aeroporto, os óculos escuros escondiam as marcas do tempo em nossos rostos; sentamos para esperar o vôo, e o aeroporto era nossa casa – milhões de gays voltando pra suas vidas como nós, e tudo parecia estar em seu lugar. Tomamos um café, um pão de queijo, uma água. Eu olhei pra ela, ela estava ali. E nesse momento, pequeno e finito, percebi que a vida era bela, que sorrir era a única solução depois de tanta diversão e tanto cansaço, estávamos juntas e isso era uma felicidade sem fim.

Mas o tempo (mais uma vez, o tempo!) provou que estava errado, que as coisas só são infinitas enquanto duram, ou melhor, só são amáveis antes de acontecer. Porque enquanto suspiramos e amamos tudo é incrível, mas quando convivemos e discutimos, a dureza da realidade, sim, a dureza dos defeitos que surgem na convivência são insustentáveis a longo prazo.