sexta-feira, 25 de julho de 2008

Cuidar de si

Fui fazer uma visitinha na Ana e ela me inspirou... vou tentar unir útil ao agradável. Já que ando com os neurônios em êxtase de tanto estudar, hoje vou escrever sobre um trabalho interessante desenvolvido por Foucault. Foucault foi um grande filósofo francês, que escreveu alguns trabalhos muito interessantes sobre a sociedade, o poder, a sexualidade e a loucura.

Um texto bastante interessante de Foucault chama-se As técnicas de si, onde ele analisa como práticas e ações sobre si mesmo tomaram corpo naquilo que entendemos por cuidado de si na atualidade. As técnicas de si permitem aos indivíduos realizarem sozinhos ou com a ajuda de outros, “um certo número de operações sobre seus corpos e suas almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos de ser; de transformarem-se a fim de atender um certo estado de felicidade, de pureza, de sabedoria, de perfeição ou de mortalidade” (Foucault, 1982).

Em outras palavras, trata-se de se policiar, de controlar seus atos, pensamentos, ações e o próprio corpo, com o intuito de tornar-se um individuo melhor, mais feliz, mais justo, mais belo. Isso acontece diariamente em nossas vidas e sequer nos damos conta. Quando temos o impulso de beijar alguém, mas não fazemos, quando queremos atacar um pedaço bolo e a consciência nos lembra o quanto teremos que malhar para perder aquelas calorias, quando nos forçamos a levantar mesmo que o corpo deseje uns minutinhos a mais, são todos exemplos de autocontrole, adquiridos com as técnicas de si. Mas existem outras técnicas ainda mais rebuscadas de exercer o controle sobre si mesmo.

As técnicas de si foram aprimoradas pela filosofia cristã, que apropriou-se de algumas táticas para melhor se inscrever nas condutas morais de seus seguidores. E desta tradição, algumas ainda persistem em nossos dias.

A análise de consciência, a escrita de si (como um diário ou um blog), a confissão, e as conversas íntimas (com uma amiga ou namorado), todas são formas de pensarmos o que fazemos, nossas práticas e condutas, e avaliar se estamos no caminho certo, ou se agimos errado, como se estivéssemos em falta com alguma coisa. Herança cristã.

Segundo Foucault, os gregos praticavam as técnicas de si de outra forma, a partir do princípio “conhece-te a ti mesmo”. Cuidar de si não seria apenas regrar as práticas e a conduta, mas sim uma missão para a vida toda, para elevar-se quanto ser humano, se tornar um sujeito interessante, bom, sábio, e feliz.

Este detalhe faz toda a diferença: significa não se sentir culpado por fazer algo que lhe faz bem, simplesmente porque outras pessoas dizem que não pode; significa você próprio ser capaz de fazer a análise sobre a sua vida, e mesmo que ouça conselhos, saber agir por conta própria, arcando com as conseqüências de um ato condenado pelos outros.

Tomar conta de si, preocupar-se e cuidar de si, segundo o princípio grego é na verdade mediar o que você quer, ponderamente, considerando aquilo que os outros esperam ou pensam. Você pode até aceitar um conselho, ouvir o que os outros têm a dizer, até porque muitas vezes quem está de fora enxerga coisas que quem está envolvido no processo não percebe. Mas a palavra final é sua. Essa é a essência do pensamento grego, e me parece que uma prática que precisa urgentemente ser adotada nos dias atuais. Afinal cuidar da própria vida está em falta – ô povo pra gostar de cuidar da vida dos outros! Vamos buscar o que queremos para nós mesmos em vez de ficar julgando os outros?

Saiba mais sobre Foucault aqui.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Correndo contra o tempo

Ultimamente não tenho tempo pra nada. E comecei a perceber que, ao menos desde que comecei a estudar a rotina tem sido assim. As obrigações talvez não fossem tantas, mas certamente eram proporcionais a minha capacidade da época.

Quando somos novos, passamos tanto tempo dependendo dos outros, fazendo cursos, escola, faculdade, estágio, e mais sei lá o que, e tudo pré-determinado – que horas você entra, que horas sai, que dias faz, quantos dias e em quais meses você tem direito a férias, o monte de disciplinas obrigatórias, o estágio obrigatório... Quase não temos controle sobre nós mesmos. No máximo escolhemos fazer inglês às terças e ir malhar às quartas. Depois de toda essa maratona de obrigações, eis que você se encontra com seu diploma, o dever cumprido e o universo para conquistar.

Nada é simples. Arrumar um emprego já é um novo desafio. E se encaixar nessa nova rotina, tão estressante quanto antes, com menos tempo disponível ainda, eis que vc encontra vários motivos para desejar voltar atrás e ser um adolescente novamente. Essa vida de adulto não é fácil! Emprego, salário, contas, obrigações, chefe, carreira... São tantas coisas pra pensar que às vezes não consigo nem lembrar de todas elas.

Essas tarefas diárias andam me consumindo... E apesar de todos os malefícios para a coluna, a eterna falta de tempo, a grana curta, todas as reclamações possíveis sobre o chefe, a parte chata do trabalho, os prazos curtos, as horas que eu perco dentro do ônibus, as novidades que mais atrapalham do que ajudam... Apesar de tudo e de todos, seguimos vivos, seguimos inteiros e, minimamente felizes. E encontramos no mesmo trabalho alguma motivação, algo que percebi em casa, num dia que não fui.

Ficar em casa é uma canseira só. Nada de bom para fazer. Na tevê só programas chatos, velhos e sem graça. Pela casa só tarefas chatas a serem feitas – lavar, passar, cozinhar, limpar. O dia passa lento, morno, inútil. E você olha pro relógio ainda são 14h!! Meu Deus o que vou fazer pra preencher o meu tempo até a noite?? Os dias se repetem, e nada muda - ainda mais para pessoas pobres como eu, que não podem sair e viajar por três dias pra algum lugar interessante ou entrar numa boate que custe 60 reais a entrada. O lance é ficar em casa com o Faustão.

Trabalhar é sentir-se útil nessa vida. É aproveitar o tempo no limite em que pode ser aproveitado. É sentir-se parte de algo maior, contribuir, de alguma forma, para a construção de uma realidade como você gostaria que fosse. Nem que pra isso não faça exatamente como você queira, tenha que convencer seu chefe, engolir uns sapos, fingir que não ouviu um comentário.

Ah, e ter um pequeno controle sobre sua vida. Afinal, sempre existe a possibilidade de chutar o balde, mandar fulaninho se fuder e ir tomar uma cerveja ao sol. As vezes parece que não, porque a conquista no dia-a-dia é pequena, lenta, e imperceptível. Mas olhar pra trás e saber que estamos ficando experientes, que já não cometemos os mesmos erros, e que estamos caminhando em direção a alguma coisa, isso já é uma recompensa por todas as tardes que não assisto Sessão da Tarde.