sábado, 31 de janeiro de 2009

As certezas sem dúvidas.

Desejava sentir sua respiração, era apenas isso. Um sentido para aquela quantidade de ar que era obrigada a inspirar. Em sua busca, enlouqueceu com a quantidade de sentidos ignóbeis que encontrou.

Sentiu intensamente verdades em seu peito, verdades não faziam parte de sua realidade. Sentiu, sorriu e gozou.

Da loucura, pôs-se de cabeça para baixo e observou todas as peças do quebra cabeça pelo lado do avesso. Não via o desenho, mas via os encaixes. Tornou-se estrategista. Por intuição. Confiou no que sentia, e agiu.

Foi quando seus sentidos a traíram.

A sua imaginação era forte, e a criação era real. Como tudo que é mágico, encantador e artístico.

Não tão real quanto a velha materialidade. Alem do velho e fraco portal, por onde escapam aos corajosos que covardemente não vivem na matriz, pouca coisa havia. Seria necessário construir, renovar e mergulhar.

E não seria impossível, se não fosse traída. Traída por seu peito, por sua própria ilusão. Ela até seria capaz de matar-se, mas não o fez enquanto havia tempo. Sentada, viu o portal fechar-se. Sentiu um vazio invadir a alma, e o amargo gosto da ilusão. Desejou não sentir sua respiração mais uma vez e lembrou-se de que ao menos isso era capaz de fazer.

Incompleta. Eternamente vazia. Sorriu por não ser feliz. E seguiu, séria, cética e mais uma vez, certa de que não consegue errar, mesmo com muito esforço. E pela primeira vez percebeu que um erro pode ser pior que aceitar a certeza diariamente.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Grandes pensamentos...


QUANDO VOCÊ PENSA QUE SABE TODAS AS RESPOSTAS, VEM A VIDA E MUDA TODAS AS PERGUNTAS (Veríssimo)


NÃO EXISTE SAUDADE MAIS CORTANTE QUE A DE UM GRANDE AMOR AUSENTE (Zé Ramalho)

NINGUÉM NESSE MUNDO É FELIZ TENDO AMADO UMA VEZ. (Raulzito)


Quanta infelicidade ainda é preciso para se aprender a viver??
Eu só queria um pouco de sabedoria para encontrar paz.
Acho que estou triste. Mas só por hoje nao vou me machucar.


Fortaleza

Maíra Baky


Sobre todas as coisas. Sobre se envolver. Sobre gostarem de você. Sobre gostar de alguém.

Sobre o desejo. Sobre a solidão. Sobre ser correspondido. Sobre ser rejeitado. Ficar esperando. Solidão.

Bate, não volta.

Volta e bate de novo. Quando você está forte, te derruba.

E quando você está de pé e quando você está sentado.

E quando você acha que tudo pode. E quando você é rejeitado.

E quando você quer porque quer.

Não tem jeito, sofre.

Isso porque são todas as coisas.

Coisa nenhuma e coisa toda. Bagunça. Frenesi.

Sentir é querer; querer não é poder.

Ser feliz é uma coisa; estar feliz é outra.

E quando eu penso que posso é quando mais eu tenho medo.

De não poder, de perder, não viver.

E quando eu caio e choro e levanto é quando mais eu penso.

E quando eu reflito, me aflijo e resolvo. Elucido.

Eu sou eu de novo, mais forte, melhor.

Porque o que não me mata me fortalece.

Como todas as coisas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Intensidade e Durabilidade

Nada pode ser intenso a ponto de durar. Ou a intensidade se espalha por espaço-tempo continuo, ou a intensidade suga, devora e se esgota num piscar de olhos.

O pior de todas as escolhas é ter que decidir a curto e longo prazo. Pela sociedade de consumo somos educados para esgotar todas as possibilidades no menor tempo possível. A boa educação diz que devemos dar lugar para o amadurecimento, para aquilo que é seguro, tranqüilo e sereno, a ponto de confortar-nos velhice a dentro. E a filosofia da felicidade recomenda: carpe diem, aproveite o dia!

Sempre ancorei-me na segurança perene, aquela que me conforta e me aquece nas noites de chuva. Pude desfrutar de muitas conquistas com a consciência de que tudo estaria bem, uma vez que eu me dedicasse aos poucos. Como o velho ditado diz de grão em grão a galinha enche o papo, e uma longa caminhada começa com um único passo.

Mas o mais estranho de tudo é sentir-se desconfortável com o conforto, e desejar a instabilidade e o desapego. Sabendo que nada pode acabar bem, que nada vai ser como antes e nada que eu faça vai tornar a minha vida mais doce do que já foi, eu posso me ver envelhecer, sozinha, sôfrega e abandonada por tudo e todos aqueles que eu amei.

Hoje eu queria arriscar, e já não posso. Hoje eu queria o colo da minha mãe, mas já é tarde. Envelhecer significa ser capaz de dar conta de si mesma. Custe o que custar, ninguém mais pode ser responsável por mim além de mim mesma.

É muito bom me encontrar nesse momento. Tanto tempo perdida e vagando sozinha pelas trilhas sem direção. Estar comigo mesma é poder contar comigo, mesmo sabendo que tudo pode dar errado e que mesmo que eu faça uma enorme burrada, ainda terei eu ao meu lado.

Ter que decidir por uma coisa ou outra significa ser capaz de abrir mão e apostar alto. Não sei prever o futuro, mas posso ver que a minha conta chegará, porque tudo tarda, mas não falha.

domingo, 4 de janeiro de 2009

A loucura e o portal²

Desgastada pela dureza das palavras e da beleza, deixou de sorrir. Encontrou-se com a faca na cozinha, mas foi incapaz de se punir. À beira do abismo decidiu que não havia mais nada a perder. Antes de morrer, decidiu deixar-se enlouquecer.

Fugiu de sua vida para outra, e supôs-se esquizofrenicamente felina. Levava ainda sua velha rotina durante o dia, e encontrava outra parta à noite.

Mergulhada nas profundezas da noite encontrou a inspiração. E tal como Perséfone não pode mais fugir de sua prisão. O roçar das cordas excitava-a. Valendo-se do pouco pudor que ainda tinha, despiu-se e tomou toda a vergonha do mundo para si.

Não podia mentir nem chorar, mas sofria. Era incapaz de escolher ou mandar, e embora petrificada, não parava em um só lugar.

Foi quando os portais se abriram e a realidade deixou de existir. Não queria mais saber de verdades nem desejos que não pudesse sentir. Quis morrer mais de uma vez mas o destino não quis. Por sorte ainda teria 7 vidas. Não queixou-se mais das luzes, e sem paz, se deixou viver.

O portal.

Acostumados aos previsíveis finais não-felizes, desejaram novos começos. Iniciaram-se em práticas tântricas, mas não encontrando sentido naquilo, escolheram o teatro.

Perdidos em tempo e espaço, encontraram-se os dois infelizes em uma dimensão paralela. Pouco à vontade, apresentou-se apressado, e ela achou graça de tal intromissão. Sentindo-se julgado e irritado, desistiu. E ela sussegou.

Encontraram-se afinal, no lugar esperado e perceberam que da realidade nada extrairiam. Calaram-se por alguns eternos minutos, e sondaram outras dimensões.

Surpreendentemente, o minúsculo mundo do qual faziam parte girou, e os copos e cigarros tornaram-se comuns. Embriagados de verdades e piadas, enxergaram algo além daquele espaço, e sorriram. Não sabiam bem ao certo sobre qual opinião discordavam, mas perceberam-se novamente atravessando o velho portal.

Aproveitaram que ninguém estava vendo e fugiram, mas a realidade tornou impossível. Encontraram juntos algo inominavelmente bom, e confortados, não viram (ou fingiram não vir) as saídas esgotarem-se.

Deixaram-se levar pelo mais precioso tempo de que dispuseram, e desejaram nunca mais sair. Estavam felizes afinal, e uma busca cessara enfim.

Mas ainda juntos, desconfiaram do tempo e do final infeliz que se apresentava com freqüência. Tentaram correr e espernear, mas o portal se fechara. Não havia mais saídas, e a entrega tornou-se obrigatória para pessoas que odeiam obrigações. Mas nada pode ser tão ruim quanto não ter alternativa de final feliz.