domingo, 4 de janeiro de 2009

O portal.

Acostumados aos previsíveis finais não-felizes, desejaram novos começos. Iniciaram-se em práticas tântricas, mas não encontrando sentido naquilo, escolheram o teatro.

Perdidos em tempo e espaço, encontraram-se os dois infelizes em uma dimensão paralela. Pouco à vontade, apresentou-se apressado, e ela achou graça de tal intromissão. Sentindo-se julgado e irritado, desistiu. E ela sussegou.

Encontraram-se afinal, no lugar esperado e perceberam que da realidade nada extrairiam. Calaram-se por alguns eternos minutos, e sondaram outras dimensões.

Surpreendentemente, o minúsculo mundo do qual faziam parte girou, e os copos e cigarros tornaram-se comuns. Embriagados de verdades e piadas, enxergaram algo além daquele espaço, e sorriram. Não sabiam bem ao certo sobre qual opinião discordavam, mas perceberam-se novamente atravessando o velho portal.

Aproveitaram que ninguém estava vendo e fugiram, mas a realidade tornou impossível. Encontraram juntos algo inominavelmente bom, e confortados, não viram (ou fingiram não vir) as saídas esgotarem-se.

Deixaram-se levar pelo mais precioso tempo de que dispuseram, e desejaram nunca mais sair. Estavam felizes afinal, e uma busca cessara enfim.

Mas ainda juntos, desconfiaram do tempo e do final infeliz que se apresentava com freqüência. Tentaram correr e espernear, mas o portal se fechara. Não havia mais saídas, e a entrega tornou-se obrigatória para pessoas que odeiam obrigações. Mas nada pode ser tão ruim quanto não ter alternativa de final feliz.

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