sexta-feira, 23 de maio de 2008

Ficar mais velha


E eis que chega a data mal aguardada, a fatídica data onde você literalmente adiciona 1 ao resto dos anos que viveu.

Ontem, dia 22 de maio, foi mais um desses dias.

E então o ritual cumpre-se tal como se deve cumprir. Você mal acorda e as pessoas te agarram e parabenizam. Você cumpre a rotina de lavar o rosto, ir até a cozinha tomar água, e então, alguma coisa parece estranha. Parece que deveria ser um dia especial, você sente isso, mas na verdade não é tanto assim. Então você enfrenta-o como se fosse um dia normal, mas de normal mesmo, não tem nada.

Então visto uma roupinha bonitinha e confortável e me lanço aos abraços. E o telefone não pára. São mensagens, abraços, beijos, parabéns e todo o ritual básico programado.

No Orkut, são mais de cinqüenta mensagens, muitas vezes de pessoas que mal conheço, ou se conheço, mal vejo-as no meu dia-a-dia. Algumas pessoas importantes deixam mensagens bonitas. Mas a grande maioria deixa o fatídico parabéns muita paz muita saúde e uhul, cumpri meu dever de cumprimentar.

E então aparecem pessoas que não fazem muita falta, e outras que quase nos matam com suas ausências; mães culpadas lembram de quando trocaram nossas fraldas e pais sumidos dão aquele risinho irônico de está ficando velha (na verdade eles se sentem muito mais velhos!!).

E é isso. Você até pode querer fazer algo pra você, ir a um restaurante ou outro lugar de sua escolha e preferência, mas sempre terá que satisfazer os outros que acham que é obrigação esse cumprimento afagado de abraços e beijos desnecessários.

Ficamos ansiosos por telefonemas de pessoas que gostamos. Ficamos entediados com telefonemas de pessoas chatas. Que um dia intenso, esse! Não dá pra fingir que é normal. Mas também não dá pra dizer que é especial – porque a grande ‘especialidade’ é deixar as pessoas confortáveis de celebrar uma data de outra pessoa.

Pessoas fazem aniversários o ano inteiro. Todo mês tem alguém para ser cobaia deste ritual. Todo mês sentimos a obrigação de ligar, de ir a um evento como esse, de deixar uma mensagem, de dizer ‘muita paz, muita saúde, que sua estrela brilhe sempre’. Quando realmente desejamos isso para uma pessoa querida, normalmente as palavras saem floridas, e talvez nem dizemos exatamente isso; mas quando é apenas uma tarefa, somos robotizados e falamos sem nos deter muito no significado delas.

Detesto abraçar quem não me importa, detesto que me abracem sem realmente desejarem isso. E é ridículo dar continuidade a esse ritual, porque na verdade a parte do ‘especial’ só acontece se você realmente ama essa pessoa e realmente se importa. Detesto a falsidade do sorriso de alguém que não me conhece, não faz a menor diferença conhecer que chega, abraça e beija, sem a menor intimidade. Pessoas que diariamente sequer desejam bom dia, como se tornam falsas no dia do seu aniversario. Detesto esperar por alguém que considero importante e esta pessoa simplesmente não aparece, não beija e não telefona.

E, por último, e não menos ridículo, é o aniversariante que quer atenção. Ele não fala com ninguém, ele não gosta de nenhuma daquelas pessoas, mas espera e quase exige que todos o cumprimentem, com beijos e abraços esse dia tão (in) esperado. Exigir dos outros a devoção, isso pra mim é o fim da picada, afinal quem ele pensa que é para ser tão especial assim.

Pra mim o filé mignon do aniversario é o dia seguinte. É comer o resto do bolo sozinha, curtir os presentinhos ganhos, ouvir telefonemas atrasados (sim, porque quem realmente importa só liga depois). Acabou o karma, o inferno astral, a tensão de ficar mais velha, de esperar ligações, de sentir o tempo passar e se perceber diferente de um ou dez anos atrás. É como correr pro abraço depois de marcar o gol. E é hoje, dia 23.

6 comentários:

Andrew disse...

rsrsrsrs!!! muito bacana o post! não tenho muito q escrever pois te falo tanto q me faltam palavras!! beijos!!

.ana disse...

não conheço-a pessoalmente, mas gosto muito do que escreves... e só posso desejar coisas boas pra quem eu percebo ser tão legal...

[e, aliás, concordo plenamente com o texto...]

:**

Livia Queiroz disse...

Parabéns pelo post...
Vc escreve mto bem.

E parando pra analisar, eh realmente assim mesmo...
As pessoas se sentem OBRIGADAS as nos parabenizar, mtas delas a gente num tá nem aí.

Esse post me fez lembrar d uma reflexão do Pedro Bial q ele fala assim:" 'I' de IDADE, aquilo que você tem certeza que vai ganhar de aniversário queira ou não queira".
Mas na verdade não eh só a idade que ganhamos...
Tem também a Experiencia...

O bacana de tudo são as mudanças que ocorrem c a gente ao longo do tempo.
Essas coisas que a gente sabe q vão acontecer mas só qndo vivemos é que sentimos o sabor verdadeiro.Ñ adianta estudar isso nas aulas de ciencias ou biologia... só vivendo mesmo!


mais uma vez parabéns pelo que escreveu.
mto bom

Ah, e obrigada por ter comentado no meu blog!
Posso add o seu nos meus favoritos?

La Maya disse...

Primeiro, parabéns!!
Segundo, fila pra comentar?!! Não, não, é isso mesmo o que acontece quando a dona do blog resolve que quer férias pra si mesma por um tempo! Mas em breve volto, e passo por aqui pra ler seu blog com calma!

Beijos!

Anônimo disse...

Uia só encontrei alguém que escreve tanto quanto eu \o/
hahaha...Adorei tudo aqui ;*

Morena disse...

Ai que bom! Estou no meio de todo esse povo que escreve legal e você visitou, é?
Obrigado pela visita. Gostei daqui. Depois eu passo para ler tudo com calma, você sabe, amanhã é segunda e eu eu acabei de assistir 4 filmes locados.
Oh céus!
Amanhã é segunda ... unda... da
Beijo!